Eu gosto de cidade grande, tenho de confessar.
Gosto do cheiro de concreto molhado,
Gosto do olho concretizado.
Eu gosto de cidade grande, não posso negar.
Eu gosto de cidade grande, tenho de falar.
Gosto da polidez de algumas pessoas,
E até da rigidez de todas as outras.
Eu gosto de cidade grande, não posso recusar.
Gosto do gosto duvidoso,
Gosto do belo e do engenhoso.
Gosto de tudo o que é “ão”,
Gosto do que se diz são.
E segue o dia num ritmo intenso,
Segue a vida num caminho tenso.
E fica a sensação da cobertura do vazio,
Fica o aqui-agora do roer curto do pavio.
Eu gosto de cidade grande, tenho que admitir.
Prefiro o cinza ao verde, prefiro a cama à rede.
Eu gosto de cidade grande e não posso desistir.